Avançar para o conteúdo principal

Galinhas do Mato - José Afonso


José Afonso dispensa apresentações. Mais conhecido por Zeca Afonso, foi um dos maiores ícones musicais do século XX da língua portuguesa, não só pelas suas letras mas também pela sua instrumentalidade. Zeca combinava a escrita para um povo com os seus ritmos, juntando o fado de Coimbra, as chulas do Minho, as batidas africanas e a lírica de um povo em sofrimento, formando uma simbiose única entre ritmo e rima.


Zeca nasceu em 1929 e morreu em 1987, pouco mais de 57 anos de vida. Uma vida curta, como a maior parte dos génios, morreu cedo de mais, mas ao contrário desta maior parte não foi devido aos vícios mas sim a uma doença degenerativa que o deixou em agonia até ao momento da sua morte. Viveu a maior parte da sua infância em África, criando um gosto pelos ritmos e tradições africanas que mais tarde se iria notar na sua discografia. Foi um dos maiores impulsionadores da escola de Coimbra, veio para a cidade em 1949 para ingressar na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e cedo se interessou pela música, tendo participado no órfeon académico e na tuna da universidade. Aqui, Zeca desenvolveu o gosto pela música de intervenção, criando uma nova corrente artística que se opunha ao regime ditatorial. Nesta fase e até à revolução fazem parte da sua discografia alguns dos seu álbuns mais conhecidos como, Traz outro amigo também, Venham mais cinco ou claro, As cantigas de Maio do qual faz parte, Grândola Vila Morena ou Milho Verde.


Mas o álbum que vos quero deixar e que acho que é uma genialidade digna de ser partilhada, é o seu último álbum, Galinhas do Mato. Já numa fase muito debilitada da sua vida, Zeca não foi capaz de gravar todas as canções tendo sido as mesmas gravadas por Luís Represas, Fausto, José Mário Branco, Sérgio Godinho, entre outros. Este álbum é um exemplo digno da vida de Zeca Afonso, junta todas as influências musicais pelas quais passou o interprete e mostra também a resiliência de um homem que mesmo quase morto, não deixou de querer continuar a deixar um legado. Esta é assim, a última obra prima de um grande génio, que mesmo inacabada, não deve deixar de ser ouvida.




Genialidades é uma etiqueta com as melhores sugestões artísticas.
Universo em desencanto- Tim Maia


Comentários

Mensagens populares deste blogue

O Homem controlador do Universo - Diego Rivera

A genialidade que se sugere este fim-de-semana está relacionada com o nascimento de um movimento cultural e social no México, o Muralismo mexicano e um dos seus mais influentes autores, Diego Rivera. Nascido em Guanajato, México, em 1886, Diego morreu com quase 71 anos em 1957 na cidade do México. Foi um dos mais influentes fundadores do movimento, juntamente com José Orozco e David Siqueiros. Ficou mundialmente conhecido o seu relacionamento com Frida Kahlo, mas foram diversos os seus relacionamentos, mesmo com Frida o seu relacionamento foi conturbado, tendo se separado e junto várias vezes com a pintora. Mas falando do que realmente interessa, das obras, foram várias as obras míticas que o pintor nos deixou. Influenciadas pelos gostos políticos de Rivera, que era um marxista convicto que acolheu Trotsky após a sua expulsão da União Soviética, as suas obras dão grande ênfase à componente social que se reflecte nos seus morais, que procuram mostrar a desigualdade entre

A eucaliptização do futebol português

As raízes aprofundaram, invadiram a terra alheia e estão prestes a secar a fonte, a competitividade desportiva que, há muito deixou de ser importante neste "lindo" eucaliptal.

As portas que Abril abriu - Ary dos Santos

Em vésperas de uma das mais importantes datas do calendário português, o 25 de Abril, quero deixar convosco uma genialidade de um verdadeiro génio, que em muito ajudou a que fosse possível a revolução dos cravos, fazendo da poesia uma verdadeira arma da resistência fascista, José Carlos Ary dos Santos. Autor de poemas icónicos do cenário nacional, Ary dos Santos, deixou um antes e um depois da sua passagem pela terra, poemas que se transformaram nas melhores músicas do século XX, como, "a desfolhada", "os putos" "Lisboa menina e moça" e tantas outras que ainda hoje passam nas rádios. Em plena ditadura, corria o ano de 1938, nasce Ary dos Santos. Cedo o seu bichinho pela escrita nasce e já na adolescência, então com 16 anos vê os seus poemas serem escolhidos para o prémio Garret. Ary começou a sua militância em 1969 no Partido Comunista Português, mesmo tendo descendência de famílias aristocratas sempre procurou lutar contra o tipo de sociedade em q